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AMAZONAS Cultura

“VOU PEGAR O BECO OU VOU EMBORA?” Linguajar do Amazonense Raiz e seus Significados

Confira aqui os principais dialetos usados frequentemente pelos amazonenses raízes; um pouco sobre história cultural do Amazonas

08/03/2022 18h45 Atualizada há 3 anos
Por: Yara Costa
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Você já deve ter ouvido alguém falar “marminino”, “telezé” ou “pitiú”. Mas você sabe o que esses dialetos querem dizer e sabe de sua naturalidade? Esses dialetos surgiram no Amazonas, e o processo normalmente é feito por uma espécie de aglutinação, que na Língua Portuguesa significa “junção de duas ou mais palavras” formando apenas uma. No caso do linguajar típico amazonense, certas palavras como “telezé” foram juntadas para facilitar ou encurtar uma frase.

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O estado do Amazonas é o maior estado em território do Brasil; lar da maior floresta tropical, do maior rio do mundo e da montanha alta do país, o Pico da Neblina, com seu tamanho extraordinário de 2,886 metros de altura, e é também o estado com maior riqueza de cultura e diversidade. No entanto, somente nos interiores e comunidades ribeirinhas é possível encontrar o “diferente e único” costume que só o amazonense raiz carrega em seu DNA.

 

História

 

Houve miscigenação no linguajar do povo da capital amazonense devido à variação de culturas. Hoje, é possível encontrar Baianos, Cariocas, Venezuelanos, Paulistas, Mineiros e muitos outros na capital do Amazonas. Mas então, onde é mais presente os dialetos diferenciados do amazonense raiz?

Os dialetos e frases diferenciadas são bastantes usadas no interior do estado. É possível ouvir palavras que jamais se ouviria em outro lugar como “chibata” que quer dizer “legal, bonito, algo surpreendente”, ou “curumim e cunhantanha” que quer dizer “menino e menina”; a palavra cunhantanha vem do Cunhantã que significa moça na língua Tupiguarani. Além dos dialetos, é possível encontrar misturas de comidas, nomes de brincadeiras, frutas diferentes e nomes comuns com escritas diferenciadas dos demais estados.

 

Foto: Divulgação

 

Nos dias de hoje, as palavras “mano” e “mana” estão mais corriqueiras que as demais. Em muitos lugares do Brasil já se usa este dialeto, assim como na capital do Amazonas já se fala bastante “Uai”, “Oxente” e “Oxi”. O dialeto é formado pela junção de duas ou mais palavras ou línguas, podendo haver vários significados para uma só palavra dependendo da região, como por exemplo a – Menina -, que significa “Cabrita” no Nordeste, "Cunhantã" ou “cunhantanha” no Amazonas, “Guria” ou “Pia” nas região Sul, e assim por diante.

Sendo um linguajar de uma determinada região ou povo, os dialetos servem para se comunicar, onde somente o povo daquela região saberá seu significado. Pessoas de outros lugares, muitas vezes, acham estranho ou até mesmo pensam que são xingamentos, pela questão de nunca terem ouvido falar e não terem conhecimento de seus significados. Imagine, por exemplo, alguém do nordeste chamando uma menina amazonense de “cabrita”; certamente, a moça não entenderia, ou poderia até mesmo levar para o lado da ofensa, mas lá no nordeste esse linguajar é super comum. Isso se chama “variação linguística".

A variação linguística acontece exatamente pelo fato de cada cidade, estado ou região terem aspectos linguísticos diferentes ou modificados em relação à Linguagem Padrão, que é descrita nas gramáticas normativas da Língua Portuguesa. Esses dialetos são utilizados por povos que se entendem, sem muitas vezes terem ido à escola, em se tratando dos lugares mais distantes onde não há acesso à informação e nem à educação. Mas isso não significa que todos esses dialetos amazonenses são falados por pessoas sem escolaridade, pelo contrário, a cultura passa de geração em geração e todos aprendem que “brocado”, por exemplo, significa estar com muita fome. 

Além dos dialetos, muitos amazonenses cresceram ouvindo que misturar certas frutas fazia mal ou poderia até mesmo levar à morte, como por exemplo misturar melancia com ovo, manga e açaí, açaí e abacaba, abacaxi e açaí; que tomar banho logo após uma refeição faria mal, estar gripado e ir tomar sorvete. É um povo de muitas lendas, muitos costumes e muita diversidade.

 

Foto: Divulgação

 

A cultura amazonense está sendo esquecida por eles próprios; os dialetos já não são mais usados por ser algo “feio, estranho e que somente pessoas mal educadas ou sem estudos falam”, o Amazonas e sua cultura deveria ser uma obrigatoriedade de conhecimento para todos os cidadãos brasileiros. Os botos, as aldeias, o encontro das águas, os ribeirinhos, é algo que só o Amazonas tem. É importante valorizar e não ter medo de defender a nossa cultura, que é a nossa maior riqueza, pois é isso que faz sermos quem somos: “amazonenses raizes”.

 

Confira alguns dos dialetos mais comuns do amazonense raiz

 

DIALETOS

SIGNIFICADOS

Vumbora ou Borimbora:

Vamos embora

Bora

Vamos

Tuíra

Sujeira

Pitiú

Mal cheiro

Gabulhice 

Mentira em excesso

Migué

Mentira

Enxerido

Arretado

Leseira Baré

Besteira grande

Espia

Olha

Triscar

Encostar

A Pulso

A força ou forçado

Bocó

Burro ou imbecil

Fuxiqueiro

Fofoqueiro

Escangalhou

Quebrou ou Danificou

Gambiarra

Feito de qualquer jeito

Pereba

Ferida ou machucado

Até o tucupi

Muito cheio

Ficar de Bubuia

Ficar de Molho

Escarrado e Cuspido

Idêntico

Vai cair um Toró ou Pé d’água

Temporal ou Muita chuva

Brincar de Pira

Brinca de Pega-pega

Brincar de se esconder ou Manja

Brincar de esconde-esconde

Brincar do se acoca

Brincar de encima ou em baixo

Brincar de elástico

Brincadeira de dança e música com elástico

Brocado ou Larica

Com muita fome

Mano

Irmão

Kamylla

Camila

Jhennypher

Jenifer

Anna

Ana

Kathya

Katia

Cupuí

Um mini cupuaçu de casca amarelada com gosto azedo

Açaí de Planta

Açaí de cor verde, encontrado somente no município de Juruá

Marimari

Muito parecido com ingá, porém muito azedo

Maracujá do Mato

Igual o que já conhecemos, a diferença é que esse não se faz suco

Cajarana

Parece uma laranja de casca fina com muitos espinhos por dentro e muito azeda

 

 

Produzido pela estudante Yara Costa, do curso de Jornalismo da Universidade Nilton Lins, em Manaus - AM

 

 

 

 

 

 

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